Quando pensamos em como a produção industrial afeta nossa vida, podemos visualizar a mudança climática, o desmatamento, os deslizamentos e a poluição. Assim, temos em mente que a ação humana que apenas visa o lucro e negligencia o bem-estar das populações é um dano mundial. Porém, muitas das vezes não localizamos quem são essas pessoas que sofrem com os riscos e danos ambientais.
Em pesquisas realizadas no Brasil e no mundo, foi observado que as populações pobres e de minorias étnicas localizadas em regiões afastadas dos centros urbanos são as que mais sentem os efeitos ambientais de atividades extrativistas, despejo de dejetos tóxicos e poluição. Aliados aos estudos, os filmes são uma ótima forma de entendermos quais os riscos e qual a situação dessas pessoas em situação de vulnerabilidade ambiental. Conhecendo essas histórias podemos nos conscientizar e ajudar a mudar essa realidade.
Convido-te a conhecer algumas obras audiovisuais para entender os conflitos e impactos ambientais.
La Abuela Grillo (A Avó Grilo)
A obra é uma curta-metragem de animação dinamarquesa e boliviana de 2009. Nela assistimos o dia a dia de uma personagem da mitologia do povo Ayoreo da Bolívia. Segundo o conto homenageado no filme, no início dos tempos havia uma avó com aparência de grilo que fazia chover onde passava cantarolando.
Deste modo, nos é apresentado a trajetória dessa personagem que leva água para todos os lugares onde passa contente, mas os problemas começam quando ela é expulsa de uma vila onde estava e vai para a capital. Na cidade a avó segue levando as águas através de seu canto. Esse poder chama atenção de empresários que veem a oportunidade de capturá-la com o intuito de vender a chuva. O resultado dessa ação é a seca e falta de água para aqueles sem condições de pagar os preços pela água.
Essa história é a representação ficcional de um evento ocorrido na Bolívia. Tal acontecimento ficou conhecido como “a guerra da água” onde nos anos 2000 o sistema de abastecimento de água da cidade de Cochabamba foi privatizado, causando uma série de manifestações.
Assistir ao filme e saber do que ocorreu nos faz pensar sobre o quão injusta é uma realidade em que um recurso essencial para a sobrevivência é disponibilizado apenas para uma parcela da população.
Ilha das Flores
O segundo filme escolhido também retrata sobre a desigualdade de distribuição dos recursos básicos. O curta-metragem é uma produção ficcional brasileira do diretor Jorge Furtado. A produção de 1989 conta a história de uma população na periferia de Porto Alegre. As pessoas que moram nesse local chamado “Ilha das Flores” precisam comer o lixo despejado em um aterro próximo para sobreviver.
Apesar de se assemelhar com um, a narrativa não é um documentário. Trata-se de uma tentativa de mostrar como é real a história que estão contando. O filme mostra toda a cadeia produtiva, desde o plantio, colheita, venda e descarte dos alimentos. Fazendo isso, a intenção é evidenciar que uma parte da população só tem acesso à última etapa, o despejo do lixo. Essas pessoas precisam então lutar pelas suas vidas procurando alimentos não estragados. A narrativa chega a tal ponto que os moradores da ilha são colocados como abaixo dos porcos por comerem melhores comidas.
Mesmo não sendo uma história real como o filme nos mostra, ele nos ajuda a compreender a realidade de muitas pessoas. A obra nos faz pensar: “Se nossa sociedade nega alimento às pessoas, onde está nossa humanidade?” A força dessa narrativa está em nos fazer pensar como em nossas vidas tratamos uns aos outros. Coloca para os espectadores a pergunta: “Porque preferimos jogar fora a comida ao invés de ajudar outras pessoas mais necessitadas?” Logo, o curta nos ajuda a entender a desigualdade de distribuição de alimentos que gera a insegurança alimentar para uma parcela da população.
Sob a Pata do Boi
O último filme escolhido para essa seleção é um documentário brasileiro. Lançado em 2018, dirigido por Marcio Isensee e Sá, é uma produção que conta sobre o tamanho da indústria pecuária no Brasil e quais são os impactos dela no meio ambiente e para as populações.
A narrativa é focada na Amazônia, onde se concentra o maior número de cabeças de gado no país. As informações disponibilizadas na obra revelam que existe uma área do tamanho da França que foi desmatada para a habitação de rebanhos.
O filme denuncia como a indústria da carne afeta tanto o ambiente quanto as pessoas que moram na floresta. Os agentes pecuaristas são os responsáveis pelos danos nessas regiões, visto que realizam atividade ilegais como a derrubada de árvores, queimadas e exploração do trabalho. O resultado é a destruição da natureza, assim como da moradia de diversas populações. Assim, a aniquilação destas áreas preservadas significa acabar com os recursos e a sobrevivência das pessoas que moram ali.
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Ao assistirmos essa obra podemos compreender como a forma de produzir alimentos impacta tanto a natureza quanto as pessoas. Logo, a importância de “Sob a Pata do Boi” está em evidenciar o descaso da indústria da carne com os riscos e danos causados em sua atividade. Portanto, isso nos possibilita nos questionarmos sobre de onde vem nossos alimentos e em quais condições.
Sobre o Autor:
Gabriel Rabello é cientista social e possui mestrado em Sociologia, ambos pela Universidade Federal Fluminense
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