Esses 3 filmes te farão repensar sobre o Brasil

A história do Brasil é extensa e complexa. Com muitas influências das culturas mais distintas, relações de poder, um passado colonial e sua reverberação enquanto estrutura de nossa sociedade tornam a compreensão do que é o Brasil uma tarefa árdua.

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Houve muitas tentativas de definir o que é a nação brasileira. Um país de dimensão continental implica muitas populações, costumes, línguas e linguagens convivendo em todos os espaços. Tornar essa diversidade em uma unidade parece quase impossível. Por isso, principalmente a partir do governo de Getúlio Vargas em 1930, um ideal do que é o Brasil passou a ser criado, na Sociologia, no cinema e na literatura.

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Indo para além desta noção idealizada, os filmes escolhidos para ajudar a compreender o que é o Brasil não focam em uma visão única do país, mas buscam expor alguns movimentos e impactos da nossa organização social na vida de diversos brasileiros. As obras aqui expostas nos ajudam a pensar os impactos da escravidão e a colonização nos dias de hoje.

M8 – Quando a morte socorre a vida

Quando um jovem negro entra na universidade de medicina, em sua primeira aula de anatomia se depara com um corpo, M8. Ao ver aquele cadáver também negro, o homem se identifica e questiona quem é essa pessoa. Qual o seu nome? Qual sua história?

Ao ir atrás dessa história, o protagonista se confronta com questões próprias a sua realidade, reflete sobre a ancestralidade, a religião e sua história. Assim, o filme retrata a trajetória de um homem que enfrenta os desafios de estar em um lugar onde sempre lhe foi negado. É uma obra que trata sobre as conquistas do povo preto que conquistou o direito de estar na universidade, mas sem esquecer que essa vitória foi resultado de muita luta e preconceitos que ocorrem até hoje.

A relação do filme com o passado colonial está em perceber como o racismo tem suas bases estruturadas neste período. Logo, podemos pensar como mesmo após a abolição da escravidão, os negros trazidos de África continuaram sendo marginalizados, estigmatizados e renegados na sociedade brasileira. O longa-metragem retrata, portanto, o racismo estrutural de nossa sociedade pós-colonial que somente recentemente estabeleceu políticas de reparo às injustiças cometidas no colonialismo.

A obra está disponível para visualização na Netflix.

Ex-pajé

Perpera é o protagonista desta história que relata o contato entre os brancos e um povo indígena, os Paiter Suruí. A população esteve isolada até metade do século XX, quando o personagem principal tinha 20 anos e era um poderoso pajé. Com o início dessa relação também começam os questionamentos sobre os costumes e religião dos indígenas. O que vemos ao longo da narrativa é um declínio do poder da liderança que é substituído pela igreja evangélica.

O que o filme nos ensina sobre a colonização é o processo de aculturação e submissão cultural. Quando os portugueses chegaram no país, havia uma centena de religiões, tradições e conhecimentos sobre o mundo. O que ocorreu em seguida foi uma dominação desses povos não apenas de seus corpos, mas também de suas crenças, através da catequização. Portanto, quando assistimos a obra “Ex-pajé” vemos uma atualização deste cenário, onde a cultura indígena é demonizada e todo conhecimento da população é desprezado.

O filme está disponível no catálogo da Netflix.

Doméstica

Na obra assistimos uma relação complexa, entre as empregadas domésticas e jovens filhas e filhos dos patrões e patroas. O recurso utilizado no documentário é o de entregar na mão desses adolescentes a câmera para que possamos ver através de seus enquadramentos o cotidiano das trabalhadoras domésticas. A partir destes olhares percebemos o que guia essas relações, uma mistura de poder, afeto e desprezo. A complexidade do tipo de trabalho está justamente onde ele ocorre, no espaço privado. Quando o vínculo trabalhista passa para a residência, as fronteiras entre o ofício, a exploração e o afetivo se confundem.

Ao analisarmos o filme podemos pensar em como esse modelo de trabalho, onde as trabalhadoras dormem na casa dos patrões e patroas, possui heranças de um passado escravagista.

Ao longo da narrativa vemos como em muitas situações são as “domésticas” que se encarregam não só do trabalho da casa, mas também da criação das filhas e filhos. Elas estão cuidando dos jovens quando entram e saem da escola ou quando estão passeando em datas comemorativas. Esse modelo de criação, onde mulheres se ocupam de atividades maternas remete ao período colonial, onde as escravas chamadas de amas de leite não somente amamentavam os filhos e filhas dos senhores mas também os criavam. Evidentemente que entre este período e a atualidade, as situações trabalhistas mudaram radicalmente, porém ainda é possível observar nessas relações alguns traços do que um dia foi a escravidão.

O filme pode ser assistido através do YouTube.

Sobre o Autor:
Gabriel Rabello é cientista social e possui mestrado em Sociologia, ambos pela Universidade Federal Fluminense

Fontes:
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/a-identidade-nacao-brasileira.htm
https://culturadoria.com.br/filme-m8-quando-a-morte-socorre-a-vida-e-um-retrato-do-brasil/
https://repository.ufrpe.br/bitstream/123456789/3560/1/tcc_keilamanuellealvesgomes.pdf
https://www.papodecinema.com.br/filmes/ex-paje/
https://www.papodecinema.com.br/filmes/domestica/
https://www.youtube.com/watch?v=tDlyb4Hns-g
https://cinemacomrapadura.com.br/criticas/290584/domestica-2012-documentario-retrata-a-vida-das-profissionais-do-lar/

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